quarta-feira, 23 de março de 2016

Curriculo tecido a partir do cotidiano.


Quando vamos planejar nossas aulas, temos em mente mil aspirações, coisas que são supostamente essenciais. Somos acometidos, em geral, pela preocupação de transmitir imagens e conteúdos que julgamos icônicos.
Porém é sempre frutífero colocarmos em cheque se nossa noção do que é essencial não é um simples reflexo da Arte que entendemos "digna" de ser ensinada. Seria interessante, principalmente para os nossos alunos, se assumíssemos uma postura flexível, que acolhe a cultura e produções locais, ligadas diretamente ao dia-a-dia e à vida prática deles, culturas essas muitas vezes negadas dentro da comunidade escolar. Buscar perceber quais práticas são de fato estimulantes, antes de impor um planejamento que não admite mudanças. 

Vivenciei duas experiências que me mostraram como os alunos se envolvem muito mais quando selecionamos os conteúdos em função deles, e não das nossas próprias expectativas.  

A primeira foi abordar o tema Jovelina Pérola Negra e sua canção " Na feirinha da Pavuna" na escola E.M. Octávio Tarquínio de Souza (6º CRE- Pavuna). Acontece que perto da nossa escola, temos uma arena que chama-se Jovelina Pérola Negra, na qual os alunos viram diversas apresentações teatrais. Foi muito interessante ver a reação deles ao descobrir de quem se tratava, redescobrir um local que faz parte de suas vidas. Também ficaram muito animados com o samba. Aproveitamos o ensejo para conversarmos sobre periferia, cultura da periferia, importância da mulher na sociedade, entre outros assuntos.
A segunda experiência, foi que na aula inaugural com um primeiro ano da E.M. Joseph Bloch (4º CRE- Parada de Lucas), deixei que modelassem livremente e observei que todos os alunos, meninos e meninas, passaram a maioria do tempo fazendo grandes tiras com a massa de modelar (cobrinhas, como eles chamam). Automaticamente, me lembrei da Medusa do Caravaggio. Então, decidi levar para eles a imagem e deixar que eles interviessem nela com suas cobrinhas de massa de modelar. Contei para eles o mito, ou a melhor tradução possível do mito, para crianças tão pequenas, enfatizando a importância de respeitar as pessoas ao nosso redor, suas escolhas e valores. 
Mais frutífero que inserir imagens consagradas, é problematizar valores que farão parte da vida prática de nossos alunos. 


Bibliografia:


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